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Crédito: Vatican Media
No âmago da fé católica, há uma rocha sólida que sustenta a verdade revelada e garante que ela não se perca nem seja deturpada ao sabor dos tempos: o Magistério da Igreja. Muita gente ouve falar dele, mas poucos sabem realmente o que é, como surgiu ou qual seu impacto na vida do fiel. Entender o Magistério é, em última análise, entender o “como” Deus continua a falar com o seu povo na história.
A palavra Magistério vem do latim magister, que significa “mestre”. No contexto eclesial, designa a função de ensinar dada por Cristo aos Apóstolos e aos seus sucessores (os bispos unidos ao Papa). Não é um “grupo” separado dentro da Igreja, mas é o próprio ofício de ensinar, interpretar e guardar fielmente a Revelação divina, seja ela escrita (Sagrada Escritura) ou transmitida oralmente (Tradição).
O Catecismo da Igreja Católica (n. 888) define:
“Os bispos, em comunhão com o sucessor de Pedro, têm o encargo de anunciar o Evangelho e de ensinar autenticamente a fé.”
Ou seja: o Magistério não cria novas verdades, mas explica, preserva e aplica a única verdade revelada por Deus, sempre de forma coerente e contínua.
O Magistério tem fundamento direto nas palavras de Cristo. Antes de subir ao Céu, Jesus disse:
“Ide, pois, e ensinai a todas as nações (…) ensinando-as a observar tudo o que vos ordenei” (Mt 28,19-20)
E ainda:
“Quem vos ouve, a mim ouve; e quem vos rejeita, a mim rejeita” (Lc 10,16)
Desde o início, portanto, ensinar a fé com autoridade faz parte da essência da missão apostólica. Não é invenção posterior. Está no DNA da Igreja.
Nos primeiros três séculos, o Magistério se exercia sobretudo por meio das pregações dos bispos, cartas pastorais e, principalmente, pela defesa da fé contra heresias. Basta pensar em figuras como Santo Irineu de Lyon ou Santo Atanásio de Alexandria, que combatiam erros doutrinários (como o gnosticismo e o arianismo) e ajudavam a fixar a reta fé.
A partir do século IV, os concílios ecumênicos tornaram-se o maior instrumento do Magistério solene. Neles, os bispos reunidos sob a autoridade do Papa definiam verdades de fé e condenavam heresias. Alguns exemplos:
Além dos concílios, o Papa possui autoridade magisterial própria. Quando define solenemente um ponto de fé ou moral “ex cathedra”, fala com infalibilidade (Dogma da Infalibilidade Papal, definido no Concílio Vaticano I, 1870). Mas atenção: não é toda fala do Papa que é infalível. Precisa reunir condições específicas (Constituição Dogmática Pastor Aeternus).
O Magistério se exerce de duas maneiras:
Ex.: dogma da Imaculada Conceição (1854), da Assunção de Maria (1950).
O Magistério ordinário também pode ser infalível quando há consenso moralmente unânime entre os bispos e o Papa sobre uma doutrina que deve ser crida como definitiva (cf. Lumen Gentium, n. 25).
Quem quer estudar o Magistério precisa mergulhar nos seus documentos. Eis alguns exemplos:
Uma das grandes confusões atuais é achar que o Magistério “inventa” doutrinas ou adapta verdades ao gosto da cultura. Não é verdade. O Vaticano II deixa claro:
“Este Ofício de interpretar autenticamente a Palavra de Deus (…) foi confiado apenas ao Magistério vivo da Igreja, cuja autoridade se exerce em nome de Jesus Cristo” (Dei Verbum, 10).
E também:
“A função do Magistério não está acima da Palavra de Deus, mas a serviço dela” (ibid.).
Ou seja, o Magistério não é dono da Revelação, mas seu servo fiel. Ele interpreta, explica, defende e aplica essa Revelação às novas circunstâncias históricas.
O fiel católico está chamado a uma obediência religiosa da vontade e do intelecto (cf. Lumen Gentium, 25), mesmo às decisões do Magistério ordinário, ainda que não sejam definições infalíveis. Essa obediência não é “cega”, mas é confiança de que o Espírito Santo assiste a Igreja para que ela não ensine erro em matéria de fé e moral.
Na prática:
Muitos opõem “Tradição” e Magistério. Erro grave. São inseparáveis. A Dei Verbum ensina:
“A Sagrada Tradição e a Sagrada Escritura constituem um só depósito sagrado da Palavra de Deus, confiado à Igreja; aderindo a ele, o povo de Deus mantém-se sempre firme na doutrina dos Apóstolos, na comunhão, na fração do pão e nas orações.”
O Magistério é o intérprete autorizado tanto da Escritura quanto da Tradição. Sem ele, cada fiel ficaria livre para inventar doutrinas, como se vê nas mais de 40.000 denominações protestantes.
Em tempos de relativismo, polarização e fake news religiosas, o Magistério é baliza segura. Ele impede que se misture a fé católica com ideologias políticas ou modismos culturais. Garante que a verdade da fé continue a mesma ontem, hoje e sempre — embora se expresse de formas novas quando necessário.
É o que Bento XVI chamava de “hermenêutica da continuidade”: o Magistério jamais contradiz a Tradição, mas a aprofunda, preservando a integridade da fé.
O Magistério não é uma burocracia fria nem um código jurídico sem alma. É o instrumento vivo através do qual Cristo continua a ensinar o seu povo. Ele protege o fiel contra erros e alimenta a fé verdadeira. Ignorá-lo seria cortar-se da fonte segura da verdade.
Como disse São João Paulo II:
“O Magistério é serviço à Palavra de Deus, para que o povo de Deus permaneça na verdade que liberta.” (Veritatis Splendor, 1993)
Para quem deseja ser católico de verdade — e não apenas de nome — conhecer, amar e seguir o Magistério é absolutamente essencial. Nele, ecoa a voz do Bom Pastor que nunca abandona as suas ovelhas.