USD | R$5,3988 |
|---|
Crédito: Reprodução da Internet
A crença na existência dos Anjos da Guarda não é uma construção moderna, tampouco uma alegoria poética para consolar crianças. Ela faz parte da doutrina sólida, perene e imutável da Igreja Católica Apostólica Romana. Desde os tempos patrísticos até os documentos magisteriais mais recentes, a presença de um Anjo da Guarda, pessoal e exclusivo, ao lado de cada ser humano, é uma verdade de fé.
Antes de tratar especificamente dos Anjos da Guarda, é essencial compreender a natureza dos anjos em si. Os anjos são criaturas puramente espirituais, sem corpo material, dotadas de inteligência, vontade e liberdade. Eles foram criados por Deus antes da criação do mundo visível. O Catecismo da Igreja Católica (CIC) afirma com clareza:
“A existência dos seres espirituais, não corporais, que a Sagrada Escritura chama habitualmente de anjos, é uma verdade de fé. O testemunho da Escritura é tão claro como a unanimidade da Tradição” (CIC, n. 328).
São Tomás de Aquino, o “Doutor Angélico”, na sua monumental obra Summa Theologica, explica que os anjos não são compostos de matéria, são formas puras, com capacidade intelectual e volitiva superior à humana.
O nome “anjo” não designa a natureza, mas a missão: são mensageiros e servidores de Deus. Como afirma o Papa São Gregório Magno:
“Anjo é o nome do ofício, não da natureza. Se eles não nos transmitem alguma mensagem, não os chamaríamos de anjos” (Homilia in Evangelia, II, 34, 8).
A Epístola aos Hebreus corrobora:
“Não são todos eles espíritos servidores, enviados para exercer o seu ministério a favor dos que hão de herdar a salvação?” (Hb 1,14).
Isso nos conduz diretamente à realidade dos Anjos da Guarda.
Cada pessoa, sem exceção, tem um Anjo da Guarda designado por Deus. Não é uma opção, não é mérito pessoal, é dom gratuito e universal. Essa verdade é atestada por Padres da Igreja, Doutores e pelo Magistério.
O Catecismo da Igreja Católica declara com solenidade:
“Desde o seu começo até à morte, a vida humana é cercada da sua proteção e da sua intercessão. ‘Cada fiel tem ao seu lado um anjo como protetor e pastor para o conduzir à vida‘ (São Basílio Magno)” (CIC, n. 336).
Este ensinamento é reforçado também por São Jerônimo, São Bernardo de Claraval e São Tomás de Aquino, que inclusive dedicou uma seção inteira na Suma Teológica ao tema dos anjos (I, q. 113).
O Papa Pio XII, em sua carta Meminisse Iuvat (1950), recorda a presença contínua e vigilante dos Anjos da Guarda. O Papa Leão XIII, por sua vez, reforçou essa realidade ao compor a famosa oração de exorcismo e proteção a São Miguel Arcanjo, justamente num contexto de alerta contra os perigos espirituais que rondam a humanidade.
Cada anjo guarda pessoalmente aquele a quem foi confiado por Deus. A sua missão é clara: proteger, inspirar ao bem, afastar perigos, conduzir a alma pelos caminhos da salvação e apresentar diante de Deus as preces e obras daquele que guarda.
A Sagrada Escritura é rica em passagens que sustentam a doutrina dos Anjos da Guarda. A mais emblemática, usada frequentemente pela Tradição, é a de Mateus 18,10, onde Nosso Senhor diz:
“Vede, não desprezeis nenhum destes pequeninos; porque eu vos digo que os seus anjos nos céus veem continuamente a face de meu Pai que está nos céus.”
No Antigo Testamento, o Salmo 90 (91) é um verdadeiro hino à proteção angélica:
“Pois ele ordenou aos seus anjos que te guardem em todos os teus caminhos. Eles te sustentarão em suas mãos, para que não tropeces em alguma pedra.” (Sl 90,11-12)
Ainda no Êxodo, Deus promete um anjo guia ao povo de Israel:
“Eis que envio um anjo adiante de ti, para te guardar pelo caminho e te conduzir ao lugar que te preparei” (Ex 23,20).
A missão de um Anjo da Guarda vai muito além de proteger fisicamente. Seu serviço é primordialmente espiritual. São Tomás de Aquino elenca cinco funções principais:
Num mundo dominado pelo materialismo e racionalismo, muitos católicos já não têm a consciência clara e viva da presença real de seu Anjo da Guarda. Triste sinal dos tempos. Muitos tratam os anjos como figuras folclóricas ou infantis. Um erro grave. O Papa São João Paulo II, em uma catequese de 1986, disse com firmeza:
“O recurso à proteção e ajuda dos Anjos faz parte da experiência da Igreja e da espiritualidade cristã.”
Ignorar a presença dos Anjos da Guarda é não reconhecer a ação contínua da Providência Divina.
A devoção aos Anjos da Guarda é incentivada pela Igreja desde os primeiros séculos. Uma das orações mais conhecidas é a seguinte:
“Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador, se a ti me confiou a piedade divina, sempre me rege, me guarda, me governa, me ilumina. Amém.“
O Papa Clemente X estabeleceu a Festa dos Santos Anjos da Guarda, celebrada em 2 de outubro, como memória obrigatória no calendário litúrgico romano.
São Bernardo de Claraval aconselhava:
“Tenha respeito pela presença de teu anjo. Em todos os lugares, ame-o como um companheiro de viagem, como alguém que Deus designou como teu guardião.”
O papel do Anjo da Guarda não termina com o último suspiro. Segundo a tradição da Igreja, o anjo acompanha a alma até o Juízo Particular, oferecendo conforto e apresentando suas boas obras diante do trono de Deus.
O Papa Leão XIII, em seu ritual para exorcismos menores, incluiu preces para invocar o auxílio do Anjo da Guarda na hora da morte, diante das tentações finais.
Num tempo de distrações e superficialidade espiritual, redescobrir a doutrina sobre o Anjo da Guarda é um convite à confiança na Providência e à vigilância constante. Deus, em Sua infinita misericórdia, nos deu um companheiro invisível que luta ao nosso lado nesta batalha pela salvação.
Ignorar o Anjo da Guarda é, de certa forma, desprezar um dos maiores auxílios que Deus colocou ao nosso alcance.
Recorramos a ele. Dialoguemos com ele. Peçamos sua proteção. A Igreja, com sua doutrina sólida, jamais erra ao nos apontar os meios de salvação.