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Crédito: Reprodução da Internet
A noite de 31 de outubro chegou até nós por meio de uma teia complexa de influências: manifestações populares de origem pré-cristã, adaptações litúrgicas e processos culturais modernos. Historicamente, comunidades cristãs responderam a práticas pagãs requalificando datas e símbolos — não simplesmente apagando-os, mas integrando-os à memória cristã quando isso era pastoramente oportuno. Hoje, o que muitas pessoas chamam de Halloween inclui desde festas infantis até rituais e entretenimentos que podem chocar a sensibilidade cristã. Diante disso, o católico precisa discernir com cuidado o que há de legítimo, o que é neutro e o que é inadmissível do ponto de vista da fé.
Ao analisar qualquer prática cultural, o cristão deve partir de pontos seguros da fé: a centralidade da encarnação e da redenção, o respeito pelo mistério da morte, a comunhão dos santos e a rejeição da superstição e do ocultismo. A fé católica não instrumentaliza símbolos para entretenimento; ela os submete à razão e à caridade. Assim, a participação em festas que demolham a reverência humana pela vida ou que promovam a idolatria do macabro conflita com a coerência cristã. Por outro lado, atividades que favoreçam a comunhão, a catequese e a caridade podem, em princípio, ser aceitas se orientadas por essas mesmas finalidades.
Não existe uma resposta única que sirva para todas as situações. Em vez de uma proibição generalizada, existem critérios claros para orientar escolhas individuais e comunitárias:
A abordagem pastoral mais eficaz não é simplesmente contrapor um “não” a tudo que vem do mundo, mas oferecer alternativas que recuperem o sentido cristão da memória dos fiéis defuntos e da veneração dos santos. Paróquias e escolas podem organizar vigílias de oração, atividades para crianças centradas na vida dos santos, espetáculos teatrais sobre temas bíblicos ou campanhas beneficentes associadas à data. Converter uma festa em chance de catequese e ação social é agir com audácia pastoral: não isola, mas instrui e envolve.
Pais e educadores têm papel decisivo. Em vez de proibir taxativamente, explicar as razões morais e espirituais por trás da decisão cria interioridade e responsabilidade. Sugestões práticas: selecionar festas em ambientes seguros; orientar fantasias que não promovam violência ou sensualidade; transformar “doces” em gestos solidários (arrecadação para famílias carentes); propor leituras sobre santos ou visitas ao cemitério em contexto de oração. Proibir sem educar pode gerar curiosidade mal orientada; educar é formar o julgamento.
A banalização do sagrado e a mercantilização das celebrações representam riscos sérios. Quando símbolos religiosos ou temas de morte são usados como mera atração comercial ou como adereço de entretenimento grotesco, perde-se a chance de oferecer um testemunho cristão autêntico. Além disso, a proximidade com práticas sincréticas ou esotéricas exige vigilância: misturar fé com crenças contrárias ao Evangelho compromete a integridade doutrinal e pastoral.
Optar por não participar é uma escolha legítima e, muitas vezes, testemunhal. Pode decorrer do desejo de não colaborar com mensagens que relativizam o bem e o mal, do receio de expor crianças a conteúdos impróprios ou da intenção de preservar a sacralidade dos mistérios cristãos. Abster-se por coerência não é deboche do mundo; é fidelidade à fé e testemunho de que existem critérios morais inegociáveis.
A responsabilidade recai também sobre pastores e comunidades: oferecer orientação clara, materiais formativos e propostas alternativas. Um anúncio público que explique o sentido dos dias litúrgicos próximos (véspera, celebração dos santos, oração pelos fiéis defuntos) e convide a práticas edificantes ajuda a formar a consciência. A Igreja não precisa temer o diálogo com a cultura; precisa, isso sim, oferecer luz e razão sem ceder ao sensacionalismo.
A resposta à pergunta “católicos podem comemorar o Halloween?” não cabe em um sim ou não simplório. O critério decisivo é a consciência informada, educada pela fé, pelo magistério e pela tradição pastoral. Participar com critério, oferecer alternativas e, quando necessário, abster-se por coerência são atitudes que expressam responsabilidade cristã. Em última instância, o cristão é chamado a ser sal da terra e luz no mundo: isso significa avaliar costumes com coragem intelectual, caridade e sentido missionário, sempre priorizando aquilo que edifica a comunhão e honra a dignidade humana.