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Crédito: Vatican Media
A festa de Corpus Christi é uma das mais ricas expressões da fé católica na presença real de Nosso Senhor Jesus Cristo na Santíssima Eucaristia. Instituída oficialmente no século XIII, mas com raízes que remontam à própria instituição da Eucaristia na Última Ceia, essa solenidade é um marco do calendário litúrgico da Igreja Católica Apostólica Romana e um testemunho público e solene da centralidade do Sacramento do Altar na vida da Igreja.
Antes de compreender o significado de Corpus Christi, é preciso reafirmar o núcleo doutrinário que fundamenta a festa: a Presença Real de Cristo na Eucaristia. De acordo com o ensinamento infalível da Igreja, definido de forma solene no Concílio de Trento (1545-1563), a Eucaristia não é um mero símbolo. Após a consagração, o pão e o vinho deixam de existir em sua substância natural, sendo totalmente transformados no Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo. A esse mistério, a Igreja dá o nome técnico de Transubstanciação.
São Tomás de Aquino, Doutor da Igreja e grande defensor da doutrina eucarística, resume essa verdade com clareza inigualável na sequência litúrgica composta por ele para a festa de Corpus Christi: o “Lauda Sion”, onde proclama: “Quantum potes, tantum aude: quia maior omni laude nec laudare sufficis” — “Quanto podes, ousa tudo: pois Ele é maior que todo louvor e nunca serás suficiente em louvá-Lo.”
A origem da festa de Corpus Christi está profundamente ligada a uma mística e a um milagre eucarístico.
No século XIII, uma freira agostiniana da cidade de Liège, na Bélgica, chamada Santa Juliana de Cornillon, começou a ter visões místicas nas quais o próprio Cristo lhe pedia a instituição de uma festa específica em honra ao Santíssimo Sacramento. Embora a Igreja já celebrasse a Eucaristia diariamente e especialmente na Quinta-feira Santa, o Senhor desejava uma festa pública, em que o povo católico pudesse professar solenemente sua fé na Eucaristia, fora do contexto da Paixão.
O pedido foi levado adiante pelo então arcediago de Liège, Jacques Pantaléon, que mais tarde se tornaria o Papa Urbano IV. Foi justamente ele quem, em 1264, através da bula “Transiturus de hoc mundo“, instituiu oficialmente a festa de Corpus Christi para toda a Igreja.
A decisão papal foi impulsionada ainda por um sinal prodigioso: o Milagre Eucarístico de Bolsena-Orvieto, ocorrido na Itália em 1263. Um sacerdote, acometido de dúvidas sobre a presença real de Cristo na Eucaristia, testemunhou, durante a Missa, a Hóstia consagrada começar a sangrar visivelmente sobre o corporal. O Papa Urbano IV, que se encontrava em Orvieto, ordenou que o corporal manchado de sangue fosse levado até ele e o conservou como relíquia.
A celebração de Corpus Christi ocorre sempre na quinta-feira após a solenidade da Santíssima Trindade, que, por sua vez, é celebrada no domingo seguinte ao Pentecostes. A escolha da quinta-feira retoma o dia da instituição da Eucaristia, que se deu na Quinta-feira Santa.
A Missa da Solenidade é riquíssima em simbolismos e textos próprios. Os textos litúrgicos foram compostos, em grande parte, por São Tomás de Aquino a pedido de Urbano IV. Destacam-se:
A Missa termina tradicionalmente com a exposição solene do Santíssimo Sacramento e, em muitas comunidades, segue-se a procissão pública, na qual o povo católico acompanha o Corpo de Cristo, levado sob o pálio, por ruas enfeitadas com tapetes e flores.
A procissão de Corpus Christi é, talvez, a manifestação mais visível e impactante da festa. Ela representa a caminhada do povo de Deus, acompanhando Jesus Eucarístico, como outrora O seguiram nas estradas da Palestina.
A tradição dos tapetes de Corpus Christi, especialmente difundida em países de forte tradição católica como Portugal, Brasil, Espanha e Itália, é um sinal de reverência e amor. Os fiéis passam dias preparando verdadeiras obras de arte feitas com flores, serragem colorida, sal e outros materiais naturais.
Durante a procissão, são feitos paramentos solenes: o sacerdote usa a humeral e carrega a custódia contendo o Santíssimo Sacramento. Os fiéis caminham em oração, cantos e adoração, reconhecendo a realeza de Cristo e a Sua presença física e substancial na Hóstia consagrada.
Corpus Christi é mais do que uma comemoração anual: é um grito de fé pública em meio a um mundo cada vez mais secularizado. A festa combate frontalmente as heresias antigas e modernas que tentam reduzir a Eucaristia a mero símbolo ou rito comunitário.
Muito mais que um feriado, este dia deve ser marcado pela devoção ao corpo e sangue de Cristo, que se faz presente no meio de nós. É um dos dias de preceito da Igreja, o que faz com que o terceiro mandamento deva ser especialmente observado: Guardar domingos e festas.
A presença real de Cristo no Sacramento do Altar é o coração pulsante da Igreja. Como ensinou o Concílio Vaticano II, na Constituição Dogmática Lumen Gentium, a Eucaristia é “fonte e ápice de toda a vida cristã” (LG, 11).
Além disso, São João Paulo II, na encíclica Ecclesia de Eucharistia (2003), reforçou o papel central da Eucaristia na vida e missão da Igreja, afirmando que “A Igreja vive da Eucaristia“.
Corpus Christi é o dia em que a Igreja sai de portas abertas para mostrar ao mundo que Deus está conosco, de verdade, com Sua Carne e Seu Sangue. Não é teatro. Não é metáfora. Não é tradição vazia. É a proclamação de um dos maiores mistérios da fé católica.
Num tempo em que tantos negam ou ignoram a presença real, a procissão de Corpus Christi é uma declaração de guerra contra o indiferentismo, o secularismo e a incredulidade. É a Igreja militante dizendo ao mundo: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo!”