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Crédito: Reprodução da Internet
Ao entrar numa igreja tradicional, com altar elevado e visivelmente separado do espaço comum dos fiéis, é impossível não notar os degraus que conduzem ao presbitério. Para o olhar desatento, são apenas um detalhe arquitetônico. Mas, para quem entende a linguagem milenar da liturgia católica, esses degraus são um verdadeiro tratado teológico em pedra. Muito mais do que um acesso físico, eles são um símbolo visível da realidade invisível do Céu, que o altar representa.
A tradição litúrgica romana, a mais antiga e universal na Igreja, sempre ensinou que os três degraus do altar simbolizam a Santíssima Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo.
Esse é o sentido primeiro, o mais sólido e o mais reiterado nos documentos, missais e manuais litúrgicos. Não é apenas um simbolismo bonito: é uma catequese em pedra, repetida há séculos na construção dos altares.
Essa prática não surgiu por acaso. Ela ecoa a teologia da própria Missa: todas as orações litúrgicas são dirigidas ao Pai, por Cristo, no Espírito Santo. A estrutura trinitária está na raiz da vida sacramental da Igreja.
Mesmo os gestos do sacerdote durante a Missa Tridentina reforçam esse simbolismo. Por exemplo: ao subir ao altar, o padre faz uma reverência central, que simboliza a adoração ao Deus Uno e Trino. Tudo está alinhado para que o fiel, mesmo sem entender latim, perceba visualmente que está diante de um Mistério Altíssimo.
Com o passar dos séculos, a espiritualidade católica desenvolveu também um sentido moral e edificante para esses mesmos degraus: a associação com as Virtudes Teologais: Fé, Esperança e Caridade.
Essa interpretação não substitui o significado trinitário, mas serve como uma espécie de “aplicação espiritual”, especialmente útil para meditação pessoal, retiros ou formação do clero e dos acólitos.
Essa interpretação moral foi usada por diversos pregadores, como meio de catequese e edificação do povo, mas sempre subordinada ao significado teológico maior: a Santíssima Trindade.
Em algumas igrejas mais antigas ou catedrais, é possível encontrar altares com quatro ou até sete degraus. Nesses casos, também surgiram interpretações simbólicas secundárias:
De novo: essas aplicações são legítimas como meditações espirituais, mas o significado litúrgico e normativo, especialmente no Rito Romano tradicional, continua sendo a referência à Santíssima Trindade.
Ao subir os degraus, o sacerdote realiza, de forma visível, a ascensão do mundo material ao espiritual. Ele passa da nave da igreja (símbolo da Terra) para o presbitério (imagem do Céu). E o altar é o Gólgota, onde se renova o Sacrifício do Calvário.
O gesto é acompanhado pela oração do Salmo 42: “Introibo ad altare Dei, ad Deum qui laetificat juventutem meam” – “Subirei ao altar de Deus, ao Deus que alegra minha juventude“.
Como bem resume o Cardeal Ratzinger (Papa Bento XVI) em “Introdução ao Espírito da Liturgia”, a elevação física do altar, com seus degraus, representa “a necessária subida da alma até Deus, que não é fruto de nossa força, mas graça que nos eleva”.
Infelizmente, nas reformas litúrgicas das últimas décadas, muitos desses elementos visuais foram abandonados. Altares ao nível do chão, sem degraus, perderam o caráter pedagógico que durante séculos ensinou, mesmo aos analfabetos, a majestade do Mistério celebrado.
Recuperar os degraus é recuperar também uma dimensão vertical da liturgia, uma pedagogia silenciosa que educa o olhar, o corpo e a alma para a adoração verdadeira.
Seja você sacerdote ou leigo, o significado dos degraus do altar é claro:
Cada Missa é uma subida espiritual. Cada degrau, um convite à conversão e à adoração ao Deus Uno e Trino.
Ao olhar para o altar, lembre-se: não é apenas pedra, é teologia em estado bruto.