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Crédito: RICCARDO ANTIMIANI | EPA
Pentecostes é uma das maiores solenidades do calendário litúrgico da Igreja Católica, celebrada cinquenta dias após a Páscoa. Essa festa, cuja origem remonta à tradição judaica, adquire novo e definitivo significado com a vinda do Espírito Santo sobre os Apóstolos, marcando o início visível da missão da Igreja no mundo. Como ensina o Catecismo da Igreja Católica (CIC 731), “o dia de Pentecostes é plenamente revelado o mistério da Trindade e a missão da Igreja é inaugurada”.
A importância de Pentecostes é tamanha que ele é chamado de “o nascimento da Igreja”, pois é nesse momento que os Apóstolos, antes temerosos e escondidos, tornam-se audaciosos arautos do Evangelho, cumprindo o mandato de Cristo: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16,15).
Originalmente, Pentecostes era uma festa judaica conhecida como “Festa das Semanas” ou Shavuot, celebrada cinquenta dias após a Páscoa judaica (Pessach). Era uma ação de graças pelas colheitas e, posteriormente, passou a comemorar a entrega da Lei no Sinai. Esse contexto é profundamente significativo: no Antigo Testamento, Deus se revela por meio da Lei escrita em tábuas de pedra; no Novo Testamento, Ele se revela plenamente pela Lei do Espírito escrita nos corações.
Assim, a Igreja vê em Pentecostes o cumprimento das promessas do Antigo Testamento, a inauguração da Nova Aliança, e o início da era do Espírito Santo, conforme prometido por Jesus: “Quando vier o Paráclito, que eu vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da Verdade, que procede do Pai, ele dará testemunho de mim” (Jo 15,26).
Assim como a Vigília Pascal precede o Domingo da Ressurreição, há também a possibilidade litúrgica da Vigília de Pentecostes, que pode ser celebrada com maior solenidade e até mesmo com um formato estendido. Essa forma mais solene é inspirada na tradição da Vigília Pascal, e inclui até quatro leituras do Antigo Testamento, cada uma com salmo, oração e coletas, preparando o coração dos fiéis para a vinda do Espírito Santo.
Essa vigília remonta ao século IV, sendo mencionada por Santo Agostinho como uma prática comum na Igreja. A liturgia da palavra reforça os diversos momentos da economia da salvação em que o Espírito agiu desde a criação, passando pelos profetas e chegando à plenitude da revelação em Cristo.
A Missa do Domingo de Pentecostes é rica em simbologia e doutrina. A primeira leitura, dos Atos dos Apóstolos (At 2,1-11), narra o episódio central: o Espírito Santo desce em línguas de fogo sobre os Apóstolos reunidos no Cenáculo, transformando-os em testemunhas destemidas de Cristo. O Salmo responsorial (Sl 103/104) entoa: “Enviai o vosso Espírito, Senhor, e da terra toda a face renovai!”, ressaltando o caráter criador e renovador do Espírito.
A segunda leitura (1Cor 12,3b-13) destaca a diversidade de dons e carismas distribuídos pelo Espírito para edificação da Igreja. E o Evangelho (Jo 20,19-23) relembra a aparição de Jesus aos Apóstolos, quando Ele sopra sobre eles e diz: “Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, eles serão perdoados…”, sinal claro da missão apostólica e sacramental confiada à Igreja.
A cor litúrgica de Pentecostes é o vermelho, simbolizando o fogo do Espírito Santo e o sangue dos mártires. O fogo, que arde sem consumir, é sinal do amor divino que transforma, ilumina e purifica. É também a cor da coragem, da entrega total e da missão. O vermelho em Pentecostes não é apenas decorativo; ele comunica visualmente a ação do Espírito que incendeia o mundo com o amor de Deus.
O uso do vermelho em Pentecostes remonta à tradição romana e está profundamente enraizado na simbologia bíblica: “Apareceram-lhes como que línguas de fogo, que se repartiram e pousaram sobre cada um deles” (At 2,3). Essa imagem não é acidental, mas revela a essência do Espírito como fogo divino que consome o pecado e inflama a alma para a missão.
A solenidade de Pentecostes, ao longo dos séculos, inspirou diversas expressões devocionais, artísticas e culturais. Uma das mais antigas é a invocação Veni Creator Spiritus, atribuída a Rábano Mauro no século IX, tradicionalmente cantada na liturgia das Horas e em grandes celebrações da Igreja. Essa oração implora a presença do Espírito, reconhecendo-O como “luz da mente, consolador suave, hóspede da alma”.
Em diversas regiões católicas, especialmente na Europa, havia o costume de soltar pombas reais dentro das igrejas ou derramar pétalas vermelhas do alto das abóbadas, representando a descida do Espírito Santo. Em Roma, essa tradição ainda é observada na Basílica do Panteão, onde pétalas de rosas vermelhas são derramadas pela abertura central da cúpula durante a Missa de Pentecostes.
Pentecostes não é apenas memória de um evento passado, mas é atualização constante da vida da Igreja. O Espírito Santo permanece como alma da Igreja, Aquele que guia o Papa, os bispos e todos os fiéis. Como ensina o Catecismo (CIC 798), “O Espírito Santo é o princípio de toda ação vital e verdadeiramente salutar em cada parte do Corpo”.
A ação do Espírito Santo se manifesta nos sacramentos, especialmente na Crisma (ou Confirmação), no Magistério da Igreja, nos dons e carismas, na vida de oração, na santificação dos fiéis e na missão evangelizadora. É Ele quem dá coragem para o martírio, luz para o discernimento e unidade no meio da diversidade.
São João Paulo II, em sua encíclica Dominum et Vivificantem (1986), afirma que “o Espírito Santo está presente na Igreja e no mundo, mesmo que o mundo o desconheça”, e que Sua ação é indispensável para a compreensão plena do Evangelho.
Pentecostes é também um prenúncio do Reino de Deus. O Espírito Santo é penhor da herança eterna (Ef 1,14), e sua descida marca o início dos “últimos tempos” – não no sentido de cronologia, mas de plenitude da revelação. É o tempo da Igreja, no qual o Espírito age para levar todos à Verdade plena (Jo 16,13), preparando os corações para a vinda definitiva de Cristo.
Celebrar Pentecostes é mais do que lembrar um fato histórico; é abrir-se, pessoal e comunitariamente, à ação transformadora do Espírito Santo. É pedir, como a Igreja pede na oração da Missa: “Enchei, Senhor, com os dons do Espírito Santo os corações dos fiéis que criastes, e acendei neles o fogo do vosso amor” (oração do dia).
A fidelidade à Tradição, o amor pela liturgia e a consciência da missão são frutos de uma vida verdadeiramente pentecostal. Como dizia São João XXIII: “O que é preciso hoje não é um novo Concílio, mas um novo Pentecostes”. Que essa festa renove em cada fiel o ardor missionário e o amor à Igreja, conduzida por Aquele que sopra onde quer, mas sempre em harmonia com Cristo e o Pai.