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Crédito: Pixabay (Domínio Público)
A língua latina, desde a antiguidade cristã, sempre teve um papel de destaque na liturgia do rito romano. Sua importância transcende o aspecto cultural: trata-se de um símbolo concreto da unidade católica. O Papa Pio XII, na encíclica Mediator Dei (1947), afirmou com clareza: “A língua latina, por sua natureza, é de grande dignidade; por seu caráter universal, pode vincular mais estreitamente os povos de diversas nacionalidades a uma mesma fé” (MD, n. 60).
O Catecismo da Igreja Católica reforça que a diversidade legítima dos ritos está subordinada à unidade da fé:
“As diversas tradições litúrgicas […] têm em comum a fidelidade à Tradição apostólica, isto é, à comunhão na fé e nos sacramentos recebidos dos Apóstolos” (CIC, §1209).
A língua latina é uma dessas expressões de comunhão: ao estar presente nas liturgias ao longo dos séculos e ao redor do mundo, ela encarna a catolicidade da Igreja — katholikos, ou seja, universal.
O latim também serve como um muro de proteção contra desvios doutrinais e ambiguidades. O Papa João XXIII, ao promulgar a constituição apostólica Veterum Sapientia (1962), declarou:
“A Igreja, por ser universal, exige uma língua universal, imutável e não vulgar. O latim é essa língua. Não está sujeita às mudanças de significado das línguas vernáculas, o que é extremamente útil para a integridade da doutrina.”
Essa ideia ressoa com o princípio apresentado pelo Catecismo e essa catequese deve estar blindada contra interpretações equivocadas.
Além disso, o Concílio Vaticano II, ao contrário do que muitos pensam, não suprimiu o latim. A constituição Sacrosanctum Concilium afirma que “O uso da língua latina seja conservado nos ritos latinos” (SC, n. 36 §1). Permitiu-se o uso das línguas vernáculas, mas com critérios rígidos e sem jamais extinguir o valor do latim.
A liturgia não é uma reunião humana; é o Céu tocando a Terra. O uso do latim favorece essa percepção sagrada. São João Paulo II, na carta Dominicae Cenae (1980), escreveu: “O abandono do latim pode empobrecer a percepção do mistério. A língua latina é capaz de criar um clima de silêncio adorante, de comunhão profunda com Deus, de consciência do sagrado.”
Essa percepção não é apenas estética; ela educa a alma. O Papa Bento XVI, em Sacramentum Caritatis (2007), recomendou fortemente que “os fiéis aprendam as orações mais comuns da Missa em latim, bem como a entoar algumas partes do canto gregoriano” (SC, n. 62), para experimentar a “unidade visível da Igreja universal”.
Como diz o Catecismo:
“A liturgia implica sinais e símbolos […] enraizados na criação, nas culturas humanas, nos acontecimentos da Antiga Aliança, realizados plenamente em Cristo” (CIC, §1145).
A língua sagrada também é um sinal. E o latim cumpre esse papel como nenhuma outra.
O Papa Paulo VI, mesmo responsável por promulgar a Missa reformada após o Concílio, afirmou em discurso de 1969:
“O latim recorda à Igreja que ela fala a todos e permanece idêntica a si mesma em todas as partes do mundo.”
É uma afirmação que contraria qualquer tentativa de relativizar o papel do latim à simples questão de gosto pessoal.
Bento XVI, ao promulgar Summorum Pontificum (2007), disse:
“O que para as gerações anteriores era sagrado, continua a ser sagrado e grande também para nós, e não pode de repente ser totalmente proibido.”
Ao defender o uso do rito tridentino (em latim), o Papa emérito não fazia uma concessão a tradicionalistas, mas um ato de justiça litúrgica.
A liturgia latina forma um povo que sabe quem é, de onde veio e para onde vai. E o latim, como expressão estável e solene desse mistério, reforça a identidade do fiel como participante do Corpo Místico de Cristo.
Preservar o latim na liturgia é mais que conservar uma relíquia; é manter viva uma tradição que alimentou santos, mártires, papas e fiéis por dois mil anos. O Papa Francisco, ainda que favoreça a Missa com linguagem acessível, reafirmou a validade do uso do latim em vários documentos, inclusive na Magnum Principium (2017), ao exigir fidelidade às edições típicas latinas da Missa.
O Papa João Paulo II, em Ecclesia de Eucharistia (2003), advertiu:
“A Igreja não pode dispor da Eucaristia como quer. Ela a recebeu como dom, e deve transmiti-la com reverência” (EE, n. 11).
Preservar a língua litúrgica está dentro desse dever de conservação fiel.
O Catecismo declara:
“Na liturgia, toda a celebração é uma obra conjunta de Cristo e da Igreja” (CIC, §1136).
Como cooperadores com Cristo, devemos evitar o improviso, o modismo e a superficialidade — e redescobrir, com humildade e zelo, o latim que Ele mesmo santificou na boca de tantos santos.
Todos os papas do último século, em maior ou menor grau, defenderam o latim na liturgia. Uns o fizeram com ênfase normativa (como João XXIII e Bento XVI), outros com zelo pastoral (como Paulo VI e João Paulo II). Mas nenhum o rejeitou. O latim é parte da identidade do rito romano, e renunciá-lo seria cortar a raiz de uma árvore viva e frutífera.
Como disse o Papa João XXIII:
“A língua da Igreja deve ser não apenas nobre e digna, mas estável e imutável, para que resplandeça em sua pureza e esplendor a doutrina revelada” (Veterum Sapientia).
Preservar o latim é mais que um gesto de conservação: é um ato de amor à Igreja, ao seu passado, à sua unidade e à sua missão de conduzir os fiéis ao Céu. E, como bem afirma o Catecismo:
“A liturgia é fonte e cume da vida da Igreja” (CIC, §1074)
Se a fonte for turva, a água se contamina. Mas se preservarmos a clareza do que recebemos, as futuras gerações também poderão beber da Tradição viva — e, com ela, louvar a Deus em uníssono com os anjos, os santos e os mártires: Introibo ad altare Dei.