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Crédito: Reprodução da Internet
Na Missa, especialmente no momento da consagração, não estamos apenas diante de um rito simbólico ou de uma recordação piedosa do Calvário. Estamos diante do maior mistério da fé católica: a atualização sacramental do sacrifício redentor de Cristo. A alma que assiste à consagração com fé, reverência e amor, ainda que não o perceba com os sentidos, é envolta por uma realidade invisível mas intensamente real — o céu se abre e o próprio Deus se oferece, mais uma vez, ao Pai por nós.
A Igreja ensina com clareza que, na consagração, o pão e o vinho se transformam substancialmente no Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo. Trata-se da transubstanciação, dogma proclamado pelo Concílio de Trento (Sess. XIII, cap. IV). Diante disso, a alma do fiel que participa dessa ação divina não permanece indiferente — ela é tocada pela presença real de Cristo, pelo próprio ato do sacrifício e pela graça que dele jorra.
O Catecismo da Igreja Católica afirma que “os fiéis, participando da Eucaristia, se unem à oferta de Cristo” (CIC, 1368). Isso quer dizer que, no momento da consagração, a alma do batizado é chamada a se unir interiormente ao sacrifício do Senhor. Ela não assiste como espectadora, mas é convocada a subir ao altar com o Cordeiro. Trata-se de uma união mística, profundamente transformadora, ainda que oculta aos sentidos.
São Pio X dizia que “a Santa Missa é a mais santa das ações, e nada se pode fazer na terra que seja mais glorioso a Deus, nem mais útil às almas”. A alma que se une a essa ação se configura mais intimamente a Cristo crucificado, oferecendo com Ele suas dores, méritos, trabalhos e súplicas ao Pai.
O que se renova no altar é o mesmo sacrifício do Gólgota, de forma incruenta. Isso significa que as graças que brotaram da cruz são, na consagração, aplicadas novamente às almas presentes — como uma nascente perene que jorra da chaga do Coração de Jesus.
São Tomás de Aquino ensina que “a Paixão de Cristo é comunicada aos fiéis pela participação no sacramento” (Suma Teológica, III, q. 83, a. 1). Portanto, a alma que participa da Missa com fé, especialmente no momento da consagração, recebe uma efusão especial de graças redentoras, podendo experimentar — ainda que veladamente — conversão, luz, força e consolação.
É comum que muitos católicos não percebam nada extraordinário durante a consagração. Isso não significa que nada esteja acontecendo. Ao contrário, como ensina Santa Teresa d’Ávila, “Deus fala à alma na linguagem do silêncio”. Durante a consagração, o Espírito Santo atua silenciosamente no coração do fiel, iluminando a consciência, inflamando o amor e conduzindo à verdadeira adoração.
A alma recolhida, em estado de graça, é como o tabernáculo: silenciosa por fora, mas habitada por Deus. E mesmo que haja distrações, se houver humildade e desejo sincero, o Senhor age. O Concílio Vaticano II, na Sacrosanctum Concilium, recorda que “Cristo está presente no sacrifício da Missa, tanto na pessoa do ministro como, sobretudo, sob as espécies eucarísticas” (n. 7). Quem crê nisso é, mesmo sem perceber, transformado interiormente.
A alma que vive a consagração com reta disposição se torna, por graça, ela mesma uma oferta unida ao Cristo. É a espiritualidade do ofertório levada ao auge: “Oferecei os vossos corpos como hóstia viva, santa e agradável a Deus: este é o vosso culto espiritual” (Rm 12,1).
Na Missa, portanto, a alma não só contempla o altar, mas se torna altar. Ela se deixa consumir com Cristo, em um amor que tudo entrega. O “fiat” de Maria torna-se seu próprio “sim”, e a consagração do pão e do vinho encontra eco na consagração da alma: “Isto é o meu corpo, entregue por vós”.
A tradição da Igreja, especialmente na liturgia tridentina, sempre reconheceu que durante a consagração os anjos rodeiam o altar, velando e adorando o mistério. Santo Afonso de Ligório narra que “quando o sacerdote consagra, o céu se abre e toda a corte celeste se prostra em adoração”.
A alma unida à Missa entra misticamente nesse coro invisível. Ela participa da liturgia celeste e se associa ao louvor eterno que os santos oferecem ao Cordeiro. Não há solidão possível no instante da consagração — todos os membros da Igreja triunfante, padecente e militante estão unidos em torno do único sacrifício redentor.
A alma que vive bem a consagração sai transformada. Algo nela é marcado, mesmo que ela não saiba explicar. Santa Catarina de Sena dizia que “as almas não podem sair da Eucaristia como entraram; ou se aproximam mais de Deus ou se afastam mais”. Quando se participa com fé e amor, o coração é ferido pela presença divina — é a “chaga doce” de que falam os místicos.
E é por isso que tantos santos — de Santo Cura d’Ars a Santa Teresa dos Andes — afirmam que a Missa é o centro da vida espiritual. A alma que compreende o que ali acontece anseia por estar sempre diante do altar, porque ali toca o invisível, bebe da fonte, encontra o Esposo.
A consagração na Missa não é apenas um momento solene — é uma brecha no tempo, uma fissura no véu que separa o visível do invisível. A alma que assiste à Missa com reverência, atenção e fé, especialmente no momento da consagração, experimenta antecipadamente a realidade do céu. Não por sentimentos ou visões, mas porque, objetivamente, é ali que o céu desce à terra.
Na consagração, Cristo se dá totalmente. E a alma que se deixa tocar por esse dom, ainda que silenciosa e oculta, começa já a viver a eternidade. Porque, no fim, é isso que a Missa é: o céu que já começou.