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Crédito: Vatican News
O anúncio feito pelo cardeal Rolandas Makrickas, arcipreste coadjutor da Basílica de Santa Maria Maior, emocionou não apenas o coração dos católicos, mas também os habitantes de um pequeno e pitoresco município à beira-mar na Ligúria: Cogorno. Essa cidade italiana, com vista para o mar e pouco mais de 5 mil habitantes, guarda nas suas […]
O anúncio feito pelo cardeal Rolandas Makrickas, arcipreste coadjutor da Basílica de Santa Maria Maior, emocionou não apenas o coração dos católicos, mas também os habitantes de um pequeno e pitoresco município à beira-mar na Ligúria: Cogorno. Essa cidade italiana, com vista para o mar e pouco mais de 5 mil habitantes, guarda nas suas colinas as raízes da família Sivori, ancestrais do Papa Francisco.
Foi dali que veio o mármore escolhido para compor o túmulo do pontífice — uma pedra escura, resistente, mas ao mesmo tempo moldável pelas mãos dos artesãos que conhecem suas veias e relevos. Extraída das pedreiras que se debruçam sobre o Golfo de Tigullio, entre Sestri Levante e Val Fontanabuona, essa rocha típica carrega consigo um simbolismo profundo: tradicionalmente utilizada para pavimentar caminhos, torna-se agora a matéria que sela a memória de um Papa que, com sua vida, traçou um caminho novo e acessível no coração da Igreja.
O local escolhido para acolher os restos mortais de Francisco é um nicho discreto, no piso lateral da Basílica de Santa Maria Maior, em Roma. A sepultura está situada entre duas capelas significativas: a Capela Paulina — onde repousa o venerado ícone bizantino de Maria, Salus Populi Romani, tão querido por Francisco — e a Capela Sforza. Próximo dali, ergue-se o Altar de São Francisco, outro sinal da profunda espiritualidade franciscana que marcou o pontificado de Jorge Mario Bergoglio.
A lápide é despojada, como o próprio Papa pediu. Sem adornos, ela traz apenas uma inscrição simples: “Franciscus”, acompanhada de uma réplica em prata da cruz peitoral que ele usava — símbolo de sua missão de pastor próximo dos últimos.
Embora Francisco raramente tenha mencionado suas raízes lígures em público, sua ligação com aquela terra estava viva. A confirmação dessa herança começou a se desenhar com o resgate da história do bisavô do Papa, Vincenzo Girolamo Sivori, natural de Cogorno, nascido em janeiro de 1850. Ele emigraria jovem para Buenos Aires, onde faleceu em 1882. Na cidade italiana, uma placa de mármore assinala até hoje a casa onde nasceu, próxima à Igreja de São Lourenço, padroeiro local.
Foi por meio de uma árvore genealógica e de contatos mantidos entre parentes distantes na Argentina e na Itália que os laços familiares reapareceram com força. Cristina Cogorno, filha de Angela Sivori — prima de Francisco — relatou que a notícia do uso do mármore lígure no túmulo do Papa foi recebida como um verdadeiro presente. “Ele nos deu um último gesto de ternura. Disse que queria repousar sobre a pedra dos avós. É algo de beleza tocante.”
A escolha do material e do local do túmulo, ainda que inesperada para muitos, está em perfeita sintonia com o estilo do Papa Francisco: direto, simples, sem ostentação, mas profundamente simbólico. Uma “última surpresa”, como disseram seus parentes, que traduz bem o seu modo de ser — sempre surpreendente, sempre próximo.
Mais do que uma sepultura, o túmulo de Francisco é um gesto de fé e memória, que une geografia, história e espiritualidade. É pedra que fala — do povo, da terra, da missão. E fala alto. A partir de 27 de abril de 2025, ele estará aberto à visitação pública, permitindo que os fiéis contemplem não só uma lápide, mas o legado de um Papa que soube caminhar com o povo e deixar marcas no coração da Igreja e do mundo.