USD | R$5,3974 |
|---|
Crédito: Benjamin West
A Solenidade da Ascensão do Senhor, celebrada tradicionalmente na quinta-feira da sexta semana da Páscoa (mas em muitos lugares, inclusive o Brasil transferida para o domingo seguintepara que mais fiéis possam participar), é um dos pilares da fé cristã. Trata-se da conclusão gloriosa da presença visível de Jesus Cristo na terra, 40 dias após a Sua Ressurreição. Porém, longe de ser um simples “adeus”, a Ascensão é, segundo a tradição da Igreja, um ato de exaltação, um envio e um começo.
Como afirma o Catecismo da Igreja Católica (CIC, n. 665):
“A ascensão de Cristo marca a entrada definitiva da humanidade de Jesus no domínio celeste de Deus, de onde voltará — mas que, desde então, o esconde aos olhos dos homens.”
O evento da Ascensão é narrado nos quatro Evangelhos de forma direta ou implícita, e especialmente nos Atos dos Apóstolos (1,1-11). Nele, São Lucas descreve como Jesus, reunido com os Apóstolos no Monte das Oliveiras, após ter falado sobre o Reino de Deus, foi elevado ao Céu à vista deles, e uma nuvem O ocultou aos seus olhos.
“Homens da Galileia, por que estais aqui parados, olhando para o céu? Esse Jesus que vos foi arrebatado para o céu virá do mesmo modo como o vistes partir” (At 1,11)
O gesto de Elevar-se aos céus não é simbólico nem poético. É real, histórico e corporal, como ensina o magistério. O Concílio de Latrão IV (1215) já professava:
“Jesus Cristo […] ressuscitou dentre os mortos, subiu ao Céu com o mesmo corpo com que sofreu e está sentado à direita do Pai.”
Portanto, a Ascensão é um fato real, que coroa a missão terrena de Cristo e inaugura Sua presença sacramental na Igreja.
Ao subir ao Céu, Jesus não nos abandona. Pelo contrário: Ele inaugura uma nova forma de presença. É o que ensina São Leão Magno, no século V:
“Aquilo que era visível no nosso Redentor passou para os sacramentos” (Sermão 74,2).
A Ascensão é, teologicamente, o ato final da glorificação de Cristo. Ele sobe ao Céu com Sua natureza humana ressuscitada e assume a realeza definitiva sobre toda a criação (cf. Ef 1,20-23). Isso significa que um de nós — um homem verdadeiro — está no Céu, reinando em glória. Isso muda tudo. A Ascensão de Jesus é a antecipação da nossa vocação eterna: estar junto do Pai.
O Catecismo (n. 666) afirma:
“Jesus Cristo, cabeça da Igreja, nos precede na glória do Reino para que nós, membros do seu Corpo, vivamos na esperança de estar um dia com Ele eternamente.”
A Ascensão está ligada diretamente à missão da Igreja. Nos Atos, antes de subir, Jesus deixa aos Apóstolos a ordem clara:
“Sereis minhas testemunhas até os confins da terra” (At 1,8).
Não se trata de um simples “vão e façam”, mas de uma transferência da missão salvífica para a Igreja. Jesus sobe, mas envia o Paráclito — o Espírito Santo — e promete Sua presença espiritual e sacramental até o fim dos tempos (cf. Mt 28,20).
É aqui que a Ascensão encontra sua ligação intrínseca com o Pentecostes, celebrado 10 dias depois. Jesus sobe para que o Espírito desça. A Ascensão prepara a Igreja para o tempo do Espírito, tempo no qual vivemos agora, até que Ele volte.
Na liturgia da Solenidade, a Igreja proclama a vitória de Cristo, mas também sua presença contínua e eficaz nos sacramentos, na Palavra e no Corpo místico. O Prefácio da Missa da Ascensão canta com clareza:
“Ele foi elevado à glória do Pai para nos tornar participantes de sua divindade.”
Ou seja, Cristo sobe levando consigo nossa humanidade, e nos abre o caminho da salvação. A Ascensão nos mostra para onde caminhamos — e, portanto, nos impede de viver de modo rasteiro, materialista ou desesperançado.
Celebrar a Ascensão é ser confrontado com uma pergunta incômoda: estamos vivendo como cidadãos do Céu ou como escravos da terra? A Ascensão nos convida à conversão da mentalidade.
Santo Agostinho, sempre afiado, diz:
“Hoje nosso Senhor Jesus Cristo subiu ao céu; suba também com Ele o nosso coração” (Sermão 261).
Portanto, viver a Ascensão é elevar o coração — não no sentido de ignorar os problemas terrenos, mas de olhar tudo com os olhos da eternidade. A política, a cultura, a ciência, os dramas sociais: tudo deve ser julgado a partir do trono de Cristo, Rei glorificado.
Importante destacar: a Ascensão não é uma metáfora. Não é um “modo de dizer” que Jesus está no coração dos que creem. Essa ideia, presente em teologias modernistas e protestantes, fere diretamente o dogma católico da ressurreição da carne e da realeza cósmica de Cristo.
A Ascensão é real, corpórea, visível, futura (no retorno) e presente (na Eucaristia). Essa doutrina está firmemente ancorada no Credo Niceno-Constantinopolitano, recitado em todas as Missas:
“Subiu aos Céus, está sentado à direita do Pai, e de novo há de vir, em glória, para julgar os vivos e os mortos.”
Negar ou relativizar isso é recusar o testemunho dos Apóstolos, dos Santos Padres e da própria Tradição da Igreja.
A Ascensão do Senhor não é um “adeus”, mas um novo modo de presença. Ela celebra a vitória de Cristo, mas também a nossa esperança. Porque Ele subiu, nós também podemos subir. Porque Ele reina, nós podemos viver já sob Seu senhorio. E porque Ele prometeu voltar, nós esperamos vigilantes.
Como ensina o Papa Bento XVI, em sua homilia da Ascensão de 2007:
“A Ascensão não indica a ausência de Jesus, mas sim que Ele está agora presente de modo novo e poderoso, no coração de cada fiel, na Eucaristia e na ação do Espírito Santo.”