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Crédito: Getty Images / Paolo Gaetano
Celebrada no primeiro domingo após Pentecostes, a Solenidade da Santíssima Trindade ocupa um lugar absolutamente único e central na liturgia e na teologia da Igreja Católica. Não se trata apenas de uma data devocional entre outras no calendário litúrgico: trata-se da contemplação do próprio Mistério de Deus, naquilo que Ele é em Si mesmo — Uno e Trino.
De forma direta e sem rodeios: a Santíssima Trindade é o Mistério de um único Deus em três Pessoas distintas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Não são três deuses. Não é um Deus que se manifesta de três formas diferentes (o chamado modalismo, condenado pela Igreja desde os primeiros séculos). Tampouco se trata de uma divisão de “partes” em Deus. A Trindade é um só Deus em três Pessoas, consubstanciais, coeternas e coiguais.
Como o Catecismo da Igreja Católica (CIC) ensina de maneira categórica no parágrafo 253:
“A Trindade é Una. Não confessamos três deuses, mas um só Deus em três Pessoas: ‘A Trindade consubstancial’. As Pessoas divinas não se dividem a unidade divina: cada uma delas é inteiramente Deus: o Pai é isto que é o Filho, o Filho isto que é o Pai, o Pai e o Filho isto que é o Espírito Santo, ou seja, um só Deus por natureza.”
Essa definição, que parece quase um trava-língua teológico, foi forjada a duras penas ao longo dos primeiros séculos da Igreja, especialmente nos Concílios de Niceia (325) e Constantinopla (381), quando a Igreja precisou enfrentar as heresias arianas e outras distorções da fé.
Deus revelou a Sua Trindade de forma progressiva ao longo da história da salvação. No Antigo Testamento, já aparecem alguns traços dessa realidade, como o uso do plural em Gênesis 1,26: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança.” No entanto, a plena revelação da Trindade só ocorre em Jesus Cristo.
É no Novo Testamento que a doutrina da Trindade aparece de forma explícita:
A Trindade não é um conceito filosófico que a Igreja inventou para complicar a vida dos fiéis, mas uma realidade que nos foi revelada por Deus e acolhida com humildade pela fé.
A Solenidade da Santíssima Trindade não celebra apenas uma “ideia” ou “dogma difícil de entender”. Ela celebra o próprio Deus, naquilo que Ele é em Sua essência. O Catecismo da Igreja Católica, no parágrafo 234, é direto:
“O mistério da Santíssima Trindade é o mistério central da fé e da vida cristã. É o mistério de Deus em Si mesmo. Portanto, é a fonte de todos os outros mistérios da fé; é a luz que os ilumina.“
Perceba a força desta afirmação: toda a economia da salvação, desde a criação até a redenção, passando pela ação santificadora do Espírito Santo na Igreja, só faz sentido a partir da Trindade.
Por que a Igreja dedica um domingo inteiro à Santíssima Trindade? Porque, após celebrar todo o ciclo da Páscoa (Paixão, Morte, Ressurreição, Ascensão e Pentecostes), o olhar da Igreja se volta para o próprio Deus, fonte de tudo o que foi celebrado.
Na Missa da Solenidade, as orações são um verdadeiro tratado de teologia trinitária em forma de súplica e louvor. A oração do prefácio, por exemplo, diz:
“Com Teu Filho Unigênito e o Espírito Santo, sois um só Deus e um só Senhor: não numa única Pessoa, mas numa Trindade de uma só natureza.“
A liturgia da Solenidade não é uma aula de teologia; é um ato de adoração ao Mistério. Aqui, a razão se curva diante da fé.
Aqui está a pergunta que muita gente faz, mas nem sempre os pregadores respondem: “Tudo bem, a Trindade é um mistério… Mas o que isso tem a ver com a minha vida?”
Resposta direta e sem rodeios: tem tudo a ver.
“Quando contemplo a Trindade, vejo uma só luz, mas com três brilhos.“
A defesa da Trindade ao longo da história foi marcada por mártires, concílios, padres da Igreja e documentos magisteriais. Qualquer desvio na doutrina trinitária é uma ofensa direta à identidade de Deus. Por isso a Igreja sempre tratou este assunto com o máximo cuidado.
O Concílio de Latrão IV (1215) declarou:
“Nós cremos firmemente e confessamos com simplicidade que só há um verdadeiro Deus, eterno, imenso, imutável, incompreensível, todo-poderoso e inefável, Pai, Filho e Espírito Santo: três Pessoas, mas uma essência, substância ou natureza absolutamente simples.“
Se alguém perguntar por que a Igreja é tão “inflexível” neste ponto, a resposta é: porque está em jogo a própria verdade de Deus. Negar a Trindade é negar o Deus verdadeiro.
Falar da Trindade não é fazer malabarismo teológico. É um convite a viver de maneira mais consciente a própria fé católica. No fundo, todo o cristianismo se resume a isso: conhecer, amar e adorar o Deus Uno e Trino.
A Solenidade da Santíssima Trindade é o dia para lembrar que nossa fé não é uma ideia, mas uma resposta ao chamado de um Deus que é, em Si mesmo, comunhão de amor.
Como rezou Santo Agostinho, um dos maiores teólogos da Trindade:
“Senhor, Vós sois mais íntimo a mim do que eu mesmo.“
Que a contemplação desse Mistério nos leve à adoração humilde e ao compromisso de viver como filhos do Pai, irmãos no Filho e templos do Espírito Santo.