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Crédito: Angellodeco | Shutterstock.com
O uso de velas na liturgia não é uma convenção estética, mas uma expressão sacramental da fé católica. A cera que se consome, a chama que sobe ao céu, a luz que resiste às trevas: tudo isso fala ao coração cristão. Desde os primeiros séculos, as velas foram usadas em celebrações e rituais como símbolos da presença de Cristo, a “luz do mundo” (Jo 8,12). Não é por acaso que as velas têm lugar reservado no altar, nos sacrários, nas procissões e nos exorcismos. Elas rezam com a Igreja.
No Rito do Batismo, a vela acesa é entregue aos padrinhos com as palavras: “Recebei a luz de Cristo”. Essa pequena chama simboliza a fé recebida, a graça inicial da alma batizada, o início da caminhada rumo à santidade. O Catecismo da Igreja Católica afirma: “Este Batismo é iluminação: tendo recebido no Batismo o Verbo, ‘a luz verdadeira que ilumina todo homem’ (Jo 1,9), o batizado, depois de ter sido ‘iluminado’, torna-se ‘filho da luz’ e ‘luz’ ele mesmo” (CIC 1216).
Poucos sabem que velas bentas são utilizadas em exorcismos e bênçãos especiais. O Ritual Romano prevê, em certos ritos, o uso de velas como sinal de purificação e presença da luz divina que expulsa as trevas espirituais. A tradição também conserva a prática das chamadas “velas das tempestades”, acesas nas janelas durante temporais como forma de proteção espiritual, especialmente quando previamente benzidas pela Igreja com fórmulas do Benedictionale Romanum.
A cerimônia da Vigília Pascal é, talvez, a expressão mais solene do simbolismo da luz na liturgia. Apaga-se toda a luz do templo. A partir do fogo novo, acende-se o Círio Pascal, que representa Cristo Ressuscitado. Nele se inscrevem o alfa e o ômega, os cravos da Paixão e o ano atual. Cada fiel recebe então uma vela acesa, que transmite a chama do Círio. É a luz que se multiplica sem se dividir. É a luz da Ressurreição que vence a noite do pecado.
No Rito das Exéquias, velas podem ser colocadas ao redor do corpo do fiel falecido, como sinal da esperança cristã na vida eterna. O Círio Pascal, presente também nos funerais, recorda que o batizado morreu e ressuscitará com Cristo. A luz é, portanto, sinal de intercessão, de esperança e de consolo. É uma presença silenciosa que diz: “Ainda que eu caminhe pelo vale da sombra da morte, não temerei” (Sl 23,4).
Antigamente, era comum acender velas nas janelas nos dias santos, como Corpus Christi e Natal, como sinal de acolhida ao Senhor. Essa prática ainda resiste em algumas regiões, sobretudo no interior. Ela manifesta que a luz de Cristo não deve ficar confinada ao templo, mas deve irradiar nos lares. É também por isso que muitas famílias mantêm um pequeno oratório em casa, com uma vela sempre pronta a ser acesa nas orações noturnas ou nas intenções mais graves.
O simbolismo vai além da chama. A vela ideal é feita de cera pura, de abelha virgem, como especifica a liturgia tradicional. Isso remete à pureza, à castidade, à entrega sem mancha. A chama deve ser reta, firme, sem tremores, imagem da fé constante. E o perfume da cera, ainda que sutil, recorda o “bom odor de Cristo” (2Cor 2,15). Assim como a vela se consome para iluminar, também o cristão é chamado a oferecer-se em sacrifício vivo.
Em cada vela acesa no altar, na casa ou no cemitério, a Igreja contempla um sinal da luz de Cristo que vence as trevas do mundo. As velas falam a linguagem da liturgia, da Tradição e da esperança. Elas acompanham a alma desde o nascimento até a morte, do batismo à ressurreição. Que cada chama acesa seja também um lembrete silencioso de que fomos chamados a brilhar, consumir-nos por amor e iluminar, mesmo quando ninguém nos vê.