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Crédito: Reprodução da Internet
O chamado Grande Cisma de 1054 foi uma das feridas mais profundas na história da Cristandade. Foi o momento em que o Oriente e o Ocidente se separaram oficialmente, rompendo a comunhão entre Roma e Constantinopla. Mas é fundamental compreender: a Igreja fundada por Cristo não se dividiu em duas metades iguais — ela permaneceu una, visível e fiel sob o sucessor de Pedro. O cisma feriu a comunhão, não a identidade da Igreja.
Desde o início, Cristo deixou claro que a sua Igreja deveria ser una, santa, católica e apostólica. Ele não fundou várias comunidades autônomas, mas uma só Igreja, com autoridade visível. “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16,18).
Essa promessa não foi simbólica, mas real. O primado de Pedro, transmitido aos seus sucessores — os papas —, garante que a fé apostólica não se dilua com o tempo. A Igreja Católica Apostólica Romana é a continuação direta e legítima da Igreja dos Apóstolos.
A separação entre Roma e o Oriente não nasceu de uma única disputa teológica, mas de um longo acúmulo de tensões políticas, culturais e disciplinares. Havia divergências sobre o filioque (a expressão “e do Filho” no Credo), sobre o uso de pão ázimo na Eucaristia e, sobretudo, sobre a autoridade do Papa.
Em 1054, após séculos de desconfiança, legados do Papa Leão IX e o patriarca Miguel Cerulário trocaram excomunhões. Naquele gesto, consumou-se a ruptura da comunhão visível, mas não da verdade da fé. A Igreja de Roma não perdeu sua legitimidade; manteve o depósito da fé íntegro e o primado instituído por Cristo.
O erro fundamental de muitos ao interpretar o Grande Cisma é pensar que a Igreja “se dividiu”. A verdadeira Igreja de Cristo não pode se dividir, pois sua unidade é garantida pela promessa divina. O que aconteceu foi que uma parte da cristandade rompeu comunhão com Roma, afastando-se da autoridade apostólica.
Como ensina o Catecismo da Igreja Católica, “os que creem em Cristo e receberam validamente o batismo se encontram, embora imperfeitamente, em certa comunhão com a Igreja Católica” (CIC 838). Ou seja, mesmo fora da plena comunhão, há elementos de santificação, mas a plenitude da verdade e dos meios de salvação subsiste unicamente na Igreja Católica (CIC 816).
Historicamente, mesmo durante o cisma, os sucessores de Pedro continuaram a exercer o primado e a conservar a doutrina intacta. Enquanto impérios orientais se fragmentavam e patriarcas se sucediam em disputas locais, Roma permaneceu como farol da ortodoxia, guardando o depósito da fé e discernindo os erros.
Nos concílios e nas definições dogmáticas posteriores, vê-se claramente que a Igreja Católica nunca abandonou o ensinamento apostólico, ao passo que as igrejas separadas do Oriente perderam a unidade de governo e a autoridade magisterial universal.
O Magistério da Igreja nunca tratou os orientais separados com desprezo. Ao contrário, reconhece sua profundidade espiritual, sua liturgia venerável e sua fidelidade à Tradição. Contudo, ensina que a plenitude da comunhão só se encontra na Igreja Católica, porque é nela que Cristo confiou a autoridade de confirmar os irmãos na fé (Lc 22,32).
Unitatis redintegratio, documento do Concílio Vaticano II, reafirma que o caminho para a unidade passa pela conversão de todos os corações à verdade e à caridade. A Igreja não busca uniformidade forçada, mas reconciliação na mesma fé apostólica, sob o primado de Pedro.
O Grande Cisma não deve ser lembrado como uma vitória de uns sobre outros, mas como um alerta sobre o perigo do orgulho humano dentro da Igreja. Toda divisão é contrária à vontade de Cristo, e por isso os católicos têm o dever de rezar e trabalhar pela restauração da unidade.
Entretanto, é preciso reafirmar: a Igreja Católica não precisa ser reconstruída, porque nunca deixou de ser a Igreja de Cristo. Ela continua, em meio às tempestades, guardando a fé e conduzindo as almas à salvação.
Há vinte séculos, reinos e impérios caíram, heresias surgiram e desapareceram, mas a Igreja Católica permaneceu. Essa permanência não é mérito humano; é sinal da assistência divina. “Eis que estarei convosco todos os dias até o fim dos tempos” (Mt 28,20).
O cisma foi um drama humano, mas a fidelidade de Cristo à sua Igreja nunca falhou. A unidade plena ainda é meta e oração, mas a Igreja Católica continua sendo o coração da fé cristã e a guardiã do Evangelho.