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															Crédito: Reprodução da Internet
Na vida da Igreja, há um caminho específico pelo qual alguns fiéis são chamados a seguir Cristo mais de perto: o caminho dos conselhos evangélicos. Pobreza, castidade e obediência não são apenas votos religiosos, mas expressões radicais de amor a Deus e renúncia voluntária de bens, prazeres e vontade própria, para que Cristo seja o centro absoluto da existência. Desde os primeiros séculos, estes conselhos foram reconhecidos como meios de alcançar a “perfeição da caridade”, conforme ensinou Nosso Senhor e confirmou o Magistério da Igreja.
O termo “conselho” não significa mera sugestão opcional sem importância, mas orientação dada pelo próprio Cristo no Evangelho, destinada àqueles que desejam seguir mais de perto o seu exemplo. São diferentes dos mandamentos, pois estes obrigam a todos, enquanto os conselhos evangélicos são livremente assumidos por quem quer entregar-se inteiramente a Deus. O Catecismo da Igreja Católica (§915) afirma: “Os conselhos evangélicos, na sua multiplicidade, são propostos a todo discípulo de Cristo. A perfeição da caridade à qual todos os fiéis são chamados implica, para aqueles que livremente acolhem o chamado à vida consagrada, a obrigação de praticar a castidade no celibato, a pobreza e a obediência.” Assim, não são preceitos universais, mas caminhos seguros de santificação para aqueles que professam a vida religiosa.
A pobreza evangélica é um despojamento voluntário dos bens materiais, inspirado no exemplo de Cristo, que “sendo rico, fez-se pobre por nós” (2Cor 8,9). Não se trata de miséria forçada, que é uma condição injusta e fruto do pecado social, mas de renúncia livre que liberta o coração da escravidão do dinheiro e do apego às coisas. São Francisco de Assis, “o pobrezinho de Cristo”, é o ícone desse conselho, vivendo sem propriedade para depender unicamente da Providência divina. O Magistério, em documentos como a Perfectae Caritatis (n. 13), enfatiza que a pobreza religiosa deve ser real e concreta, manifestada em um estilo de vida simples, sem luxo, e sempre aberta à partilha com os pobres. Essa pobreza não é estéril: é fecunda porque enche o coração de disponibilidade para Deus e para o próximo.
A castidade no celibato consagrado é a entrega total do coração a Deus, renunciando ao matrimônio e à vida sexual para viver exclusivamente para Cristo e seu Reino. Jesus mesmo falou sobre aqueles que se fazem “eunucos por causa do Reino dos Céus” (Mt 19,12). O Catecismo (§2349) ensina que a castidade consagrada “é sinal deste mundo futuro, em que nem se casam nem são dados em casamento”. Ela é fruto do amor e não do desprezo pela sexualidade, pois a Igreja vê a sexualidade como dom de Deus; a renúncia não nega esse dom, mas o oferece de volta ao Criador. São João Paulo II, na Vita Consecrata (n. 88), afirmou que a castidade “torna o consagrado livre para amar a todos com o coração de Cristo”. É também um testemunho escatológico: aponta para a realidade última, em que Deus será “tudo em todos” (1Cor 15,28).
A obediência evangélica é a renúncia à própria vontade para seguir a de Deus, manifestada através dos legítimos superiores e das regras da vida religiosa. Cristo é o modelo supremo, pois “tornou-se obediente até à morte, e morte de cruz” (Fl 2,8). Obedecer não significa anular a liberdade, mas elevá-la ao grau mais perfeito: a liberdade de quem escolhe amar e confiar totalmente na Providência. O Concílio Vaticano II, na Perfectae Caritatis (n. 14), ressalta que a obediência deve ser vivida na fé e no amor, não como submissão cega, mas como busca comum da vontade de Deus. Na tradição monástica, especialmente com São Bento, a obediência é considerada uma virtude que molda todo o caráter, tornando o religioso dócil à ação do Espírito Santo.
Embora distintos, pobreza, castidade e obediência formam uma unidade espiritual. A pobreza liberta dos bens; a castidade liberta dos apegos afetivos desordenados; a obediência liberta do egoísmo da própria vontade. Juntos, esses conselhos configuram o religioso a Cristo pobre, casto e obediente. A Lumen Gentium (n. 44) ensina que “pela profissão dos conselhos evangélicos, a pessoa se entrega totalmente a Deus, amado acima de todas as coisas, para que, unida a Ele de modo novo e especial, possa dedicar-se ao serviço e à edificação da Igreja”. Assim, longe de afastar o consagrado do mundo, esses votos o tornam mais presente, mais disponível e mais eficaz na missão evangelizadora.
Mesmo sendo um estado de vida próprio da vida consagrada, os conselhos evangélicos têm valor espiritual para todos os fiéis. De algum modo, todo cristão é chamado a viver o desapego dos bens, a pureza do coração e a docilidade à vontade de Deus. São João Paulo II, na Redemptionis Donum (n. 11), lembra que o testemunho dos consagrados é um “sinal visível para todos” e que os conselhos evangélicos são “uma expressão radical da vocação batismal à santidade”. Por isso, quem vive no matrimônio, no sacerdócio diocesano ou no mundo leigo também é convidado a aprender dos consagrados o espírito destes votos, adaptando-os à própria vocação.
Pobreza, castidade e obediência não são práticas de uma minoria isolada, mas um dom que Deus concede à Igreja para sua santificação e missão. Eles são faróis que apontam para a realidade eterna, corrigem o curso das ilusões mundanas e mostram que a verdadeira liberdade está em pertencer inteiramente a Deus. Ao longo da história, os santos que abraçaram esses conselhos tornaram-se sinais vivos do Reino, transformando não apenas os mosteiros, mas também a cultura, a ciência, a arte e a vida social. A vida consagrada, enraizada nesses três pilares, permanece, como sempre, uma das forças mais silenciosas e poderosas na edificação da Igreja e na salvação das almas.