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Crédito: Reprodução da Internet
O termo “respeito humano” soa virtuoso. Afinal, quem poderia ser contra o respeito? Porém, a tradição católica ensina que, se mal compreendido, o respeito pode deixar de ser virtude e se tornar armadilha espiritual. Quando o medo da desaprovação dos outros nos paralisa diante da verdade, o respeito humano degenera em servidão moral: é o que os santos chamam de “temor do mundo”. Neste artigo, refletiremos sobre o verdadeiro sentido cristão do respeito e o perigo mortal de idolatrar a opinião alheia.
Na linguagem espiritual católica, “respeito humano” não se refere simplesmente à boa educação, mas à dependência excessiva do juízo dos outros. É quando alguém deixa de fazer o que é justo por medo de ser criticado, zombado ou rejeitado. Santo Afonso de Ligório dizia que o respeito humano “é o laço com que o demônio prende as almas covardes”.
O Catecismo da Igreja Católica não usa o termo diretamente, mas o sentido está presente em diversos pontos: quando trata da liberdade interior, da coragem de professar a fé e da necessidade de resistir à pressão social. A virtude oposta ao respeito humano é a fortaleza — dom do Espírito Santo que leva o cristão a praticar o bem, mesmo sob desprezo. O respeito humano é, portanto, uma deformação da caridade: tenta agradar o homem antes de agradar a Deus.
O respeito humano nasce do desejo legítimo de convivência, mas cresce desordenado quando o amor-próprio supera o amor à verdade. A tentação é antiga: Pilatos sabia que Jesus era inocente, mas o entregou para não desagradar à multidão. Quantos cristãos, hoje, repetem o gesto — omitindo-se em nome da “prudência” ou do “respeito às diferenças”?
A caridade não pode ser cúmplice da mentira. Amar alguém é desejar-lhe o bem, e o bem nunca está separado da verdade. Quando, por “respeito”, deixamos de corrigir um irmão, aprovarmos o mal por covardia ou escondemos nossa fé, praticamos uma falsa misericórdia — aquela que consola o pecado, mas abandona o pecador.
Jesus foi direto: “Quem se envergonhar de mim e das minhas palavras, também o Filho do Homem se envergonhará dele” (Lc 9,26). É um golpe no coração do respeito humano. O cristão deve respeitar todos, mas nunca à custa da fidelidade ao Evangelho.
Os mártires são o grande antídoto contra o respeito humano. Eles preferiram perder a vida a renegar a fé. E, em escala menor, cada católico é chamado a testemunhar com a mesma lógica: falar de Deus quando o ambiente zomba d’Ele; sustentar princípios morais quando o mundo os deturpa; defender a vida quando é tida como descartável.
O respeito humano cala o discípulo; o Espírito Santo o faz falar. É por isso que o medo da opinião pública é, muitas vezes, mais nocivo que a perseguição aberta.
A Igreja sempre associou santidade à liberdade interior diante das pressões externas. São João Paulo II, em sua encíclica Veritatis splendor, recorda que o bem moral não depende do consenso social, mas da verdade inscrita por Deus no coração do homem. Não existe caridade sem verdade, dizia também Bento XVI, porque amar implica desejar o que é realmente bom para o outro — e isso exige coragem de contrariar o erro.
Essa firmeza não é arrogância, mas fidelidade. A fortaleza é uma virtude moral, e a pusilanimidade — medo excessivo do julgamento alheio — é seu contrário direto. O “respeito humano” é justamente essa pusilanimidade disfarçada de educação ou tolerância.
Convém, porém, distinguir o respeito humano desordenado do respeito cristão autêntico. O verdadeiro respeito é fruto da caridade e se manifesta no trato digno com toda pessoa, inclusive o inimigo. Ele reconhece a imagem de Deus no outro, sem jamais negar o bem objetivo.
O respeito cristão fala a verdade com mansidão, mas não se cala por covardia. É o equilíbrio entre o zelo e a caridade: firme nos princípios, delicado nas formas. Santo Tomás de Aquino ensina que a correção fraterna deve ser feita por amor e não por vaidade de ter razão; mas também que calar diante do pecado pode ser falta de caridade.
O respeito humano é uma tentação constante e sutil. Satanás não precisa convencer o cristão a renunciar formalmente à fé; basta fazê-lo calar-se em nome do “respeito”. O diabo prefere um silêncio covarde a uma negação explícita. Por isso, os santos alertam: o maior inimigo da santidade não é o ódio do mundo, mas o desejo de ser aceito por ele.
Santa Teresa de Jesus dizia que “o respeito humano é grande inimigo das almas que desejam progredir na oração”. Para ela, querer agradar aos homens é sinal de que ainda se busca estima e aplauso — e quem busca aplauso, ainda não busca a Deus totalmente.
O respeito humano paralisa a ação cristã em todas as esferas:
Tudo isso mina a credibilidade da fé e, aos poucos, cria uma Igreja silenciosa, mais preocupada em agradar o mundo do que em convertê-lo.
A cura para o respeito humano é a fortaleza interior, que nasce da oração e da convicção sobrenatural. O católico precisa aprender a perder o aplauso do mundo sem perder a paz. São Pedro, que antes negara Cristo por medo, depois pregou diante do Sinédrio dizendo: “Importa obedecer a Deus antes que aos homens” (At 5,29).
Esse é o critério definitivo: obedecer a Deus primeiro. O cristão que busca a verdade e ama o próximo não pode submeter a fé às modas culturais. A prudência não é covardia; é sabedoria ordenada ao bem. E o respeito só é virtude quando serve à verdade, não quando a oculta.
O verdadeiro respeito humano é o respeito que começa em Deus e se estende ao próximo. Tudo o que se afasta desse eixo degenera em vaidade, medo ou conivência. Em tempos de confusão moral e perseguição sutil, o católico deve repetir o que tantos santos viveram: “Prefiro desagradar aos homens a ofender a Deus.”
Respeitar não é calar; é amar a ponto de dizer a verdade. Só assim o respeito deixa de ser armadilha e volta a ser virtude.
“O respeito humano é o verniz do medo; a fortaleza cristã é o perfume da verdade.”