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Crédito: Reprodução da Internet
Nascido num tear e convertido em ardor missionário, Antônio Maria Claret (1807–1870) é uma das figuras mais luminosas da Igreja no século XIX. Sua vida demonstra que a santidade e a eficácia pastoral caminham juntas quando enraizadas na tradição e animadas por criatividade apostólica. O que o distingue não é apenas o número de obras que fundou, mas a clareza com que entendeu que a missão é um ato de amor concreto, não uma ideia abstrata.
Filho de tecelões em Sallent, na Catalunha, Claret cresceu entre o som dos teares e o ritmo do trabalho manual. Desde cedo aprendeu o valor do esforço, da disciplina e da vida simples. Essa formação, profundamente cristã e marcada pela devoção mariana, moldou o modo como ele veria o mundo: tudo podia e devia ser oferecido a Deus, inclusive o trabalho cotidiano. Ao ingressar no seminário, uniu o amor ao estudo à vida espiritual intensa. A humildade do seu berço e a seriedade da sua formação se tornariam o eixo de toda a sua ação pastoral: fé sólida, linguagem acessível e obediência ao Magistério da Igreja.
O coração de Claret ardia por evangelizar. Ele percebia a fé popular enfraquecida e via a necessidade urgente de sacerdotes bem preparados e de comunidades formadas. Foi assim que nasceu a Congregação dos Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria, os Claretianos. O objetivo era simples e ousado: preparar pregadores que unissem profunda piedade mariana, clareza doutrinal e método pastoral. A congregação foi sua resposta à crise espiritual de seu tempo — e permanece até hoje como instrumento vivo da missão da Igreja.
Ao ser nomeado arcebispo de Santiago de Cuba, Claret encontrou uma diocese desorganizada e o povo sem formação religiosa consistente. Em vez de se queixar, percorreu o território inteiro a pé ou a cavalo, confirmando, confessando e pregando. Criou escolas, reorganizou a vida sacramental, combateu injustiças e formou o clero local. Promoveu também iniciativas sociais para ajudar trabalhadores e famílias em dificuldades. Sua pastoral era integral: corpo e alma, fé e justiça, doutrina e compaixão. Tudo isso sem jamais transigir com a verdade.
Mais tarde, como confessor da rainha Isabel II, Claret viveu um dos cargos mais delicados que um sacerdote pode ocupar: aconselhar o poder sem se deixar corromper por ele. Sofreu críticas, calúnias e perseguições, mas permaneceu firme na fidelidade à Igreja. Soube ser leal à verdade mesmo quando a verdade custava caro. Essa atitude mostra o que a Igreja sempre ensinou: a autoridade espiritual não se exerce para agradar os poderosos, mas para lembrar que toda autoridade deve servir ao bem e à moral cristã.
Claret percebeu que os novos tempos pediam novos meios. Por isso, lançou-se no uso da imprensa como ferramenta evangelizadora. Fundou editoras, escreveu folhetos, livros e panfletos que explicavam a fé de modo claro e acessível. Entendia que quem domina a palavra escrita alcança as almas distantes do púlpito. Seu pioneirismo mostra que o zelo apostólico não teme as inovações tecnológicas — desde que sejam colocadas a serviço da verdade.
No centro de toda a sua vida está o Imaculado Coração de Maria. Claret via em Maria o modelo da entrega total a Cristo. Ser “filho do Coração de Maria” significava deixar-se plasmar por seu amor e docilidade. Ele nutria também uma profunda devoção à Eucaristia, fonte de força para sua incansável atividade. Claret rezava muito, pregava muito e se confessava com frequência. Sua espiritualidade era equilibrada: intensa na oração, mas voltada para o serviço. Ele não fugia do mundo para ser santo; santificava o mundo por meio do serviço.
Claret não era apenas um místico inflamado; era um homem de método. Compreendia que a graça precisa de estrutura para permanecer fecunda. Por isso, além da congregação missionária, fundou colégios, casas de formação e obras voltadas à instrução do povo. Sua visão prática e eclesial impediu que seu carisma se diluísse com o tempo. Hoje, os Claretianos continuam sua obra em mais de setenta países, levando o Evangelho com a mesma fidelidade que o fundador desejava.
Claret morreu em 24 de outubro de 1870, exilado, pobre e caluniado. Mas a santidade não precisa de aplausos. Décadas depois, a Igreja reconheceu oficialmente o que o povo já sabia: sua vida foi um testemunho heroico de fé e caridade. A canonização apenas confirmou que sua existência foi uma pregação contínua. Desde então, seu nome é lembrado no calendário litúrgico e seu exemplo inspira missionários, pregadores, professores e comunicadores católicos do mundo inteiro.
O exemplo de Claret continua atual, ele ensina o equilíbrio: a verdadeira inovação nasce da fidelidade ao Evangelho. Seu zelo lembra que a evangelização não é uma estratégia, mas uma exigência do amor. E sua espiritualidade mostra que a devoção mariana não é sentimentalismo, mas escola de obediência e coragem. A Igreja de hoje precisa redescobrir esse espírito: sacerdotes formados, leigos comprometidos e todos sustentados pela oração.
Antônio Maria Claret é um santo para tempos confusos. Ele uniu tradição e modernidade sem romper com nenhuma das duas. Foi fiel ao Magistério e ousado nos métodos, devoto e inteligente, piedoso e prático. Sua vida é um lembrete de que a santidade não é incompatível com o trabalho duro, com a organização e com a criatividade. Quem olha para ele vê um homem simples que acreditou que Deus podia fazer grandes coisas por meio de corações pequenos. E é exatamente isso que a Igreja continua a precisar: santos que trabalhem, pensem, amem e se deixem consumir pela missão — como Claret fez, até o fim.