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Crédito: Reprodução da Internet
Na pequena cidade de Lanciano, na região de Abruzzo, Itália, repousa silenciosamente um dos mais impressionantes milagres eucarísticos da história da Igreja Católica. Conhecido como o Milagre Eucarístico de Lanciano, esse prodígio remonta ao século VIII e permanece até hoje como um sinal eloquente da Presença Real de Cristo na Eucaristia – Corpo, Sangue, Alma e Divindade –, conforme ensina infalivelmente o Magistério da Igreja.
O episódio milagroso ocorreu por volta do ano 750 d.C., em um mosteiro da Ordem de São Basílio, onde vivia um monge sacerdote de origem grega. Este sacerdote, cujo nome a história não preservou, passava por uma grave crise de fé: duvidava da real presença de Jesus Cristo na Hóstia consagrada. Era um tempo de conflitos teológicos, com heresias como o docetismo e o arianismo ainda ecoando no mundo cristão. Além disso, o contexto histórico era tenso: o Império Bizantino, do qual a região fazia parte, enfrentava convulsões religiosas e políticas, e a fé era constantemente posta à prova.
Certo dia, ao celebrar a Missa segundo o rito latino – que aos poucos substituía o rito grego na região –, quando pronunciou as palavras da consagração, o sacerdote viu diante de seus olhos a Hóstia tornar-se carne viva, e o vinho do cálice converter-se em sangue visível e pulsante. Atônito, interrompeu a Missa e chamou os fiéis presentes, que testemunharam o milagre com temor e reverência.
Desde então, a carne e o sangue milagrosos foram preservados e expostos à veneração dos fiéis. Com o tempo, o milagre passou aos cuidados dos frades franciscanos, que, desde 1258, conservam-no na Igreja de São Francisco, erguida no local do antigo mosteiro basiliano.
Apesar de sua antiguidade, o Milagre de Lanciano atravessou os séculos com uma impressionante conservação natural. No século XX, a Igreja autorizou estudos científicos rigorosos para examinar os fragmentos e esclarecer sua natureza. Os exames mais famosos foram realizados entre 1970 e 1971 por uma equipe médica e científica liderada pelo professor Odoardo Linoli, médico, cirurgião e especialista em anatomia patológica, em colaboração com o professor Ruggero Bertelli, da Universidade de Siena, especialista em histologia.
As análises, feitas com métodos rigorosos de anatomia microscópica, histoquímica e imunológica, chegaram às seguintes conclusões:
O Dr. Linoli publicou os resultados em 1971, e os exames foram confirmados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) em 1976, após 500 exames suplementares ao longo de 15 meses. A OMS declarou que “a ciência, consciente de seus limites, não pode dar uma explicação natural para o fenômeno“.

O simbolismo do milagre é profundo. O fato de a carne ser tecido do miocárdio remete diretamente ao Sagrado Coração de Jesus, fonte de vida, amor e misericórdia. Trata-se de uma resposta clara e amorosa de Deus à dúvida sacerdotal, reafirmando que a Eucaristia não é um símbolo, mas o próprio Cristo vivo.
No contexto da tradição judaica, há fortes paralelos com o Pessach (Páscoa), em que o cordeiro pascal deveria ser consumido totalmente e seu sangue usado para marcar as portas das casas (Êxodo 12). Esse rito prefigurava a Eucaristia, na qual o Cordeiro de Deus é imolado e consumido sacramentalmente. O sangue, sinal de vida e aliança no Antigo Testamento, agora é dado como bebida redentora.
Além disso, segundo os costumes judaicos, o sangue é o portador da vida (cf. Levítico 17,11). Ao apresentar não apenas o corpo, mas também o sangue, Deus confirma sua promessa: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna” (João 6,54). Esse ensinamento, motivo de escândalo para muitos discípulos no tempo de Cristo, é visualmente confirmado em Lanciano.
A escolha do tipo sanguíneo AB é também teologicamente significativa. Esse tipo é considerado universal em termos de recepção, pois aceita sangue de qualquer outro tipo, mas não doa a ninguém. É uma imagem do Cristo que recebe todos em si, mas que não pode ser substituído por ninguém. Ele é único, irrepetível, insubstituível.
A doutrina da Presença Real de Cristo na Eucaristia é um dos pilares da fé católica, definida solenemente no Concílio de Trento (1545–1563) contra os erros protestantes: “No Santíssimo Sacramento da Eucaristia está contido verdadeira, real e substancialmente o Corpo e o Sangue, juntamente com a Alma e a Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo, e, por conseguinte, o Cristo todo inteiro” (DS 1651).
O milagre de Lanciano não é dogma de fé, mas é reconhecido oficialmente pela Igreja como um sinal autêntico, em plena harmonia com a doutrina eucarística. Ele fortalece os fiéis, convida à adoração e serve como resposta misericordiosa às dúvidas humanas.
Os fragmentos do milagre estão atualmente expostos em um relicário de prata e cristal na Igreja de São Francisco, em Lanciano, protegidos e venerados por milhares de peregrinos todos os anos. A presença silenciosa da carne e do sangue continua a converter corações, restaurar a fé e reacender o amor por Jesus Eucarístico.
Em tempos de indiferença e descrença, o Milagre de Lanciano continua a proclamar o núcleo da fé católica: a Eucaristia é Jesus Cristo vivo. E aquele sacerdote que duvidava? Por ironia divina, tornou-se instrumento de um dos maiores milagres eucarísticos da história – testemunho de que, mesmo na fraqueza da fé, Deus age com poder e misericórdia.