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Crédito: HALLEL
O Hallel Franca 2025 encerrou-se no último domingo, 14 de setembro, depois de três dias que marcaram a história da evangelização no Brasil. Mais de cem mil pessoas passaram pelo Parque de Exposições Fernando Costa, atraídas pelo tema “A esperança não engana”, inspirado na carta de São Paulo aos Romanos (Rm 5,5). A cidade de Franca tornou-se, uma vez mais, ponto de convergência de jovens, famílias e comunidades de todo o país. Com público recorede, o evento reuniu mais de 100.000 pessoas. Mas, mais do que números, o Hallel foi uma catequese viva sobre como a fé, quando bem celebrada, é capaz de unir oração, cultura e compromisso social.
Desde 1988, o Hallel tem sido referência em música católica e evangelização. Não se trata apenas de um “festival”, mas de um encontro de fé, com raízes na espiritualidade da Igreja. O que impressiona, ano após ano, é a capacidade do evento de se renovar sem perder sua identidade. A cada edição, cresce em público, mas também em diversidade de expressões, módulos formativos e testemunhos. O Catecismo da Igreja Católica lembra que “a fé precisa ser confessada, celebrada, vivida e rezada” (cf. CIC 2558). O Hallel, nesse sentido, oferece ao povo um espaço onde essas quatro dimensões se encontram de forma palpável.
Os shows de Frei Gilson, Rosa de Saron, Colo de Deus e tantos outros grupos atraíram multidões e criaram momentos de profunda comoção. O próprio Padre Marcelo Rossi, ao celebrar a missa de domingo, reuniu milhares em torno da Eucaristia. No entanto, a Igreja sempre adverte que a música, mesmo poderosa, é instrumento e não fim.
O Concílio Vaticano II, em Sacrosanctum Concilium (n. 112), ensina que a música sacra deve ser “parte integrante da liturgia solene”, elevando o espírito e servindo à oração. Quando a música abre espaço para a graça, como se viu em Franca, cumpre sua missão; mas quando se reduz a espetáculo, corre o risco de distrair da centralidade de Cristo. No Hallel 2025, felizmente, o equilíbrio entre emoção e espiritualidade foi notável.
Diversos influencers e pregadores católicos, como Alan Carrion e Priscila da Colo de Deus, reuniram centenas de pessoas para ouvir seus testemunhos e pregações.
No coração do evento, as celebrações eucarísticas deram sentido a tudo o mais. É na missa que se cumpre o que ensina São João Paulo II em Ecclesia de Eucharistia: “A Igreja vive da Eucaristia” (n. 1). O povo que lotou o parque não se reuniu apenas para cantar, mas para comungar do Corpo de Cristo e ser enviado em missão.
O testemunho de muitos jovens que participaram pela primeira vez revela isso: a experiência da adoração e da confissão pessoal marcou suas vidas mais do que qualquer apresentação musical. A liturgia bem celebrada, com reverência e fidelidade às normas, foi uma das maiores riquezas do encontro.
Se o tema era “A esperança não engana”, era necessário que essa esperança se tornasse visível em gestos de caridade. O Papa Bento XVI, na encíclica Spe Salvi, afirma que a esperança cristã não é ilusão, mas realidade que se prova no amor vivido (cf. SS 31). Nesse aspecto, o Hallel mostrou sinais promissores: arrecadação de alimentos, acolhimento de caravanas de diferentes regiões, espaço para crianças e idosos, presença de voluntários incansáveis.
Eventos dessa magnitude sempre expõem tensões. A primeira é a de unir espetáculo e sacralidade. É possível manter a atração popular sem diluir a seriedade do anúncio? O Magistério oferece critérios: fidelidade doutrinária, centralidade da Palavra e da Eucaristia, e testemunho de caridade.
A segunda tensão é logística: como acolher bem cem mil pessoas em uma cidade média, sem comprometer o trânsito, a segurança e o meio ambiente?
A terceira é pastoral: como transformar três dias de impacto em frutos permanentes para as comunidades locais? A Evangelii Gaudium (n. 24) ensina que a evangelização autêntica deve gerar “discípulos missionários”. Ou seja, o Hallel não pode terminar no domingo à noite; precisa repercutir em cada paróquia, em cada vida transformada.
Entre os relatos mais fortes, muitos peregrinos falavam da sensação de unidade: famílias inteiras rezando juntas, jovens que encontraram ali um sentido novo para sua fé, idosos emocionados ao ver netos e bisnetos cantando ao lado deles. A comunhão de estados de vida, idades e culturas é um sinal da catolicidade da Igreja. Em tempos de divisão e polarização, um encontro que reúne milhares em torno do essencial — Cristo presente na Eucaristia — é um sinal de esperança. Como lembra o Papa Francisco, “a esperança é ousada, sabe olhar além da comodidade pessoal, das pequenas seguranças e compensações que estreitam o horizonte” (Fratelli tutti, n. 55). O Hallel foi ousadia coletiva.
O Hallel Franca 2025 mostrou, mais uma vez, que a Igreja no Brasil é viva, criativa e profundamente capaz de evangelizar em grande escala. Contudo, o verdadeiro critério de sucesso não é o número de participantes, nem a repercussão na mídia, mas a fidelidade ao Evangelho e a transformação concreta da vida dos fiéis.
A esperança proclamada em Franca não engana porque é Cristo mesmo que a garante. Mas Cristo exige de seus discípulos não apenas cânticos de alegria, mas frutos de santidade, justiça e caridade. Como escreveu São Paulo: “A esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,5). Esse derramamento foi vivido em Franca; agora cabe a cada participante levá-lo adiante, para que o Hallel não seja apenas um evento, mas um impulso de vida nova para toda a Igreja.